É nesse momento volátil que chega ao Japão o ambicioso navegador inglês John Blackthorne, um mercador cujo objetivo é acabar com o monopólio de Portugal, que controla o comércio entre o Japão e a China. Blackthorne, primeiro inglês a atravessar o Estreito de Magalhães, e sua tripulação de oito homens, naufragam perto de uma aldeia dominada por Yabu, um dos asseclas de Toranaga. Para os japoneses, ele não passa de um bárbaro transparente nos sentimentos e fácil de manipular por causa da preocupação exagerada com a própria vida. Eles o chamam de Anjin (navegador). O fato de ser protestante agrava sua recepção, pois as ilhas já contam com a presença de ocidentais católicos, que vêem no inglês uma ameaça a seu lucrativo intercâmbio de ouro e prata pelo Oriente.
Com a missão de cortar metade do conteúdo presente no livro sem perder a essência dos personagens nem das cenas dramáticas, Bercovici chegou ao âmago de Shogun contando a estória pela perspectiva de Blackthorne, removendo as intrigas políticas que não envolvessem o personagem. Essa economia de tempo e dinheiro agradaram Clavell. Ele completou a equipe, contratando o diretor Jerry London (Guerra, Sombra e Água Fresca/Hogan’s Heroes) e um grupo-chave de técnicos americanos.
Tudo estava pronto para a viagem ao Japão, mas para Chamberlain a questão era convencer James Clavell a lhe dar o papel. O novelista tinha em mente os britânicos Albert Finney e Sean Connery e não imaginava o Dr. Kildare interpretando Anjin. Os testes com Chamberlain, no entanto, o fizeram mudar de opinião. A conquista foi tanto uma realização pessoal quanto um desafio profissional, pois Chamberlain e Blackthorne ficavam constantemente cercados de pessoas que só falavam japonês. Essa sensação de abandono em meio ao desconhecido foi compartilhada pelo público, que ficava a mercê de Blackthorne para entender uma estória contada em um idioma completamente estranho. Chamberlain era o único americano em um elenco também composto por 15 europeus, 28 japoneses em papéis importantes, e milhares de extras locais. Embora a equipe técnica tivesse 30 americanos, a maior parte dos trabalhos era desempenhada por japoneses.
Para interpretar Toranaga, foi contratado o ator internacionalmente conhecido, Toshiro Mifume, que viu no papel a missão de tornar Shogun um retrato autêntico de seus país e introduzir sua história e cultura às plateias do mundo. Com isso em mente, ele trocou muitas ideias com o diretor, Jerry London. O resultado seria a recriação precisa de uma época, talvez com poucas exceções. De acordo com a tradição, por exemplo, os samurais daquele tempo deveriam raspar a cabeça. Mas como a produção temia que Toranaga parecesse muito estranho ao público americano, ele manteve o cabelo.
Produzir uma minissérie americana tão longe de casa, naquela época, provou ser um enorme desafio. De 4 de junho a 11 de dezembro de 1979, a equipe acostumada às facilidades de Hollywood lutou com as enormes barreiras idiomáticas e com uma indústria cinematográfica precária. O resultante choque de culturas fez a produção passar do orçamento, indo de 13 milhões para vinte. Além disso, frequentemente era difícil liberar áreas como cais, campos e castelos para as filmagens sem atrair o descontentamento de pescadores, fazendeiros e até da polícia. Após muito incômodo de ambas as partes, a produção fez uma contribuição de 25 mil dólares ao sindicato dos pescadores.
A produção também atraiu a ira de moradores de um bairro residencial em Tóquio, durante as filmagens noturnas do desastre do Erasmo, navio de Blackthorne. O enorme cenário montado em um tanque no Toho Studios tornou-se alvo de diversas reclamações por causa do barulho provocado pelo mecanismo que simulava ventos, tempestades e ondas. Em uma tentativa de aplacar a ira dos moradores, Clavell e Mifume pediram desculpas e os convidaram a visitar o estúdio. Mas as queixas cessaram apenas quando Clavell os presenteou com garrafas de saquê. A natureza também contribuiu com tufões, desmoronamentos e muita chuva.
E como vencer a barreira do idioma? Com intérpretes, claro. Mas a velocidade desta troca de informações não satisfazia a equipe americana, que com frequência também se aborrecia com o curioso hábito dos japoneses de realizar conferências para debater as instruções inesperadas. Filmar nestas condições tornou-se difícil, particularmente em cenas navais. Durante uma sequência envolvendo diversas embarcações no largo de Nagashima, por exemplo, a transmissão de instruções através dewalkie-talkies transformou a cena em uma comédia pastelão, com barcos virando e colidindo uns nos outros.
Talvez o maior problema enfrentado em Shogun foi encontrar a atriz para interpretar Mariko. A busca por uma atriz japonesa jovem e bonita que falasse inglês estendeu-se por semanas durante as filmagens, e quase provocou uma parada na produção, até que Yoko Shimada apareceu. Embora seu inglês não fosse fluente, ela foi capaz de melhorar seu desempenho com a ajuda de um professor e conseguiu transmitir a noção de subserviência feudal e da força samurai, ao mesmo tempo em que mostrou o fascínio oriental necessário para seduzir Blackthorne.
“Shogun foi uma produção gigantesca. Assim como E o Vento Levou/Gone with the Wind, filme com o qual foi comparado, Shogun absorveu mais tempo, dinheiro e esforço do que qualquer outro filme já criado até a época.” Frank Cardea (produtor associado). TRILHA DE ABERTURA
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AUTOR: VEJA
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